03/02/2018

para de ser doido!

Foi taróloga mendiga quem decretou: professores de teatro que também são atores não têm alunos, têm possíveis rivais. Para de ser doida! Antes de tirar ovo do cu e redigir fake news neopentecostais toma 16 banhos de anil, tapa umbigo com esparadrapo, carrega terço e ônix no bolso esquerdo, José, Ricardo, João, Rodrigo, Jackson, não digo, Odoyá, vela de 7 dias no sábado.


Foi um ano pra quem acredita em calendário, signos e fiasco. Na área das artes dediquei-me mais às cênicas do que às literárias: inveja mais próxima, arrivista e/ou competitiva suja, fez com que eu melhor avaliasse certo ímpeto meu em heroicizar a figura de professor - palavra que sempre brotou no peito, doce, indagativa. Os bonzinhos se fodem durante a maior parte das novelas mexicanas. Já em Terradois Jorge Forbes apresenta bastidores de esforçados tramando contra talentosos. Abstraí, tirei o ovo da camisinha e não fui selecionado. A italiana me deixou nervoso e uzoiudo mandaram zica suficiente pra rachar bendite frute.



assim como a poesia
vida é uma questão de sorte




Esse ano já limpei vidros, liguei pra sensitiva e fui atendido. Fui figurante principal de comercial; fiz cortinas com as mantas de doação; doei sangue; troquei chuveiro pela primeira vez na vida; contemplei mendiga arrumando cama, com todo cuidado, pruma boneca branca e loira; içei velas para o nada que nina a morte.




nome completo e data de nascimento





Tudo tem seu lado ruim.
Continuo sem dar mínima atenção a quem gosta de chamar atenção (e isso não é uma coisa boa, segundo minha homeopata). Não consigo disfarçar risadas de deboche (lembro-me da freira de Huxley, que de repente gargalhava num momento sério, ecumênico), minto que é de nervosismo que rio da incompreensão alheia, nas ruas: por que não param de ficar me olhando? Toda vez que estou triste, ansioso, depressivo, observam meus pensamentos, estão no futuro ou passado, eu sempre (preso) no presente, irrelevante, desempregado: banho de anil indiano; rosas brancas e vela branca de 7 dias pra Iemanjá; filho de Jesus; Bíblia aberta no Salmo 66; Oh! Deus glorioso! Abençoe este alimento; já gozô?; alfazema em sinal de cruz; 10 Pai-Nossos!




(cri cri cri...)




Sento no degrau de granito meio podre e sujo de cocô de pombos. Pés no irregular relevo de pedras portuguesas. Vou revezando posição do tórax, ora curvado pra frente ora recostado na cortina de ferro cinza de tinta e poluição. Nessa última posição, principalmente, quando pedestres se aproximam na tentativa de falar merda e/ou xingamento/opróbrio indireto à minha cabeça baixa que tenta se concentrar no smartphone. Costume bastante corriqueiro. Conversam normalmente mas à medida que se aproximam de algum depressivo, cabisbaixo, fechado em seu mundo vão acendendo o brilho perverso do olhar e gradativamente aumentando volume das matracas para que culmine d'ele levantar cabeça e dar atenção e/ou compreensão anal no exato momento em que vão falar palavrão e/ou limpar nariz. Nesse exato momento em que escrevo um mendigo à esquerda não para de me fitar. Como estou com o rosto perpendicularmente virado a seus olhos ele pensa que não estou percebendo, ou seja, desconhece o que seja visão global. Mais à esquerda, no mesmo degrau que ele, a mendiga que nina boneca ainda não xingou ninguém, não gritou suas imprecações às sombras platônicas dos transeuntes. A equipe que distribui comida fica olhando pra minha cara bem daquele jeitinho que detesto: misto de espanto, inveja e atração, tipo de olhar presente na minha vida e com o qual não consigo me acostumar. Só faltou eles perguntarem "O que você quer?" pra minha mão estendida. É uma daquelas equipes de brancos classe-média descendentes de imigrantes do programa de clareamento vindos do ABC Paulista para fazer caridade seletiva. Faz bem para o ego deles doar sopa aos pretos e pardos; fedorentos; maltrapilhos; bêbados; retirantes; cheiradores de thinner; às muié de ocupação (com carrinhos de bebê cheios de marmita e uma aleijada que às vezes esquece, sai da cadeira de rodas mas imediatamente é repreendida pela mãe, conhecida na Boca pela alcunha de "Índia"); travestis esquizofrênicas; ex-michês ex-detentos etc. Dória fechou a Tenda, então essa escória tá mais fedorenta ainda.




(o mendigo que não parava de me observar pede licença e faz cama do meu lado
pena de pombo cai à direita)




"Quem abriu esse segredo vai se ferrar muito!"




Não sei de onde tirei tanta pedagogia em tão longo espaço de tempo. De macumbado já basta eu, mas insisto na simpatia pela desgraça alheia. "Você tem que tratar essa síndrome de Bukowski!", aconselha Évelize. "Não é síndrome, é a minha vida!", retruca Xororó. Como vou sustentar uma trava quase cinquentona com cabeça de criança que destrói maloca quando estou no estrangeiro? Uma trava tão errada, burra, desmemoriada e irresponsável mas que se acha normal!? Sorry.



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Se eu não me engano comunicação e caos. Adorava esse número no início dos anos 2000, signo da paixão geminiana, nunca declarada, transmutada em amizade, apadrinhamento de seu primogênito com outro, mais yang que eu - que de mitomaníaco feliz me transmutei num sincericida, nos embalos dos ratos da noite, loucura bem fundamentada, declarada para ninguém, nem pra homeopata. Melhor cair fora.



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Alguém não para de tossir no quarto ao lado. Ontem aumentei muito o volume de uma música no celular (True Colors remix), e quando vi tinha alguém batendo forte na porta, eu tava cagando então apenas baixei o som e recebi um "THANK U!" do lado de fora. Deve ser esse traficante árabe de dread locks que pelo jeito vive dormindo. Acordei hoje umas 4am e pouco, se não me engano. Lavei roupas que estavam de molho, as coloquei em cabides, para secar, em apoios improvisados. Vesti a calça de tecido macio que comprei. Decidi não tomar banho, grudei esparadrapo no umbigo; ônix e terço no bolso esquerdo; camisa listrada branca e azul claro, de doação; chinelo; clotrimix® nas unhas dos dedos mindinhos secos dos pés e no anelar do pé esquerdo; boina cinza-claro (sexta); óculos de grau; cachecol que era da mãe; bolsa de couro a tiracolo. Subi pro restaurante da cobertura, tomei milky coffee, tentei brincar com gatos, mas eles são bem arredios e vegetarianos, assim como os cães, sem viço, débeis, opacos. Não paro de ver esses vídeos engraçados no Facebook, depois fico massageando e pressionando músculos do bigode chinês. Vou até a Estação Central de trens mas desisto de me aventurar, me arriscar com poucos recursos. Volto para o hotel trazendo cosméticos amargosos. Subo lá de novo, milky coffee de novo. Desço pro meu quarto, passou do meio dia, vai começar a bater sono que impus ao cérebro com carbamazepina. Iemanjá, minha mãe, dona do meu corpo, traga meu grande amor sem dramas, sem brigas, traga-me um amor sem garras depois do gozo, um amor puro e verdadeiro, um amor que tenha apenas um rosto.



da mesma forma
tudo também tem seu lado bom



🕯 🐚  💙  🌼  🍾  🍚  🌊