19/08/2016

casa de cartas

Achei tratar-se duma série educativa dessas pra aprender inglês, visto que transmitida pela Tv Cultura. Pois mal olhava legendas, pois personagens falavam devagar, escandindo vocábulos como quem carrega ovo cozido na boca, como quem quer se fazer bem entendide, pois as coisas, as modas mudam depressa, realidades vão sendo aumentadas, dizem, amigos... Signos que vêm e vão e vão e vêm como uma onda no mar. Sou diferente de você, não levo uma vida normal, meu personagem não tem direito a intervalo, minha militância...


-- eu não gosto de ver TV.
-- mano, cê é meio diferentão mesmo, né nom?


Não assisto desde 1998 quando, aos 13, caí no mundão. A última série que acompanhei deve ter sido Plantão Médico ou Barrados no Baile. Lost passava quando eu tava lost. Nessa época corrupção era algo do qual pessoas não se queixavam tanto quanto agora, com direita mafiosa ainda voltando a se consolidar. Mas lembro como se fosse ontem a noite em que Nazaré, de Senhora do Destino, fez-me chorar, chapado, assistindo seu belo, dramático suicídio sobre o Velho Chico. Uma noite depois chorei ouvindo Sometimes Salvation, do Black Crowes. Mal imaginava que estaria gravando lágrimas de cachorro com dó dum gurizinho sírio. Achava que Snapchat era voltado para diversão de crianças excepcionais, mas na noite seguinte senso crítico foi por água abaixo. Agora estou na fila da boca de rango e a chuva parou, é segunda, mas não tem programa Xuxa Meneghel devido à cobertura das Olimpíadas.
No 7° andar o barraco é um dos menores, por isso pago 150 por mês. Na janela mantenho suspenso vaso com brotos de linhaça e um girassol incipiente. Deixaram sofá-cama, vizinhos que foram embora (por causa do barulho de sexo contíguo), e peguei e forrei com uns Tony Ramos e Humberto Martins. A gata primogênita Jurema continua miando com cabeça pra fora do vão de cima da porta, Dadinho tentando sempre fugir e Tibicuera toda noite pra fuder com Bóris -- o preto garanhão do prédio; acho que está grávida novamente. Soraya Montenegro partiu definitivamente -- em decorrência de última invasão mal-sucedida no casarão abandonado dum promotor de injustiças: ele acabou conseguindo nos evacuar com apoio da pm e ameaças contra vendedor de tapioca; depois declarou, bradando, que ia processar todas mulas do MLSM. O aprendiz de trava tode certinhe que é ficou com medo de não mais ser ré primária caso assassine a punhaladas seu grande inimigo mortal gaúcho caolho. Ou seja: mais uma vez tô sem grana pro aluguel.
Quero ninar uma russa no colo e sair dessa vida, sair do Brasil. Mas por enquanto sigo aqui sentado no degrau frio de granito, recostado na cortina de ferro que fechou barbearia vintage. Espero sopa de feijão enquanto um sulista dá close de voz em mim. Eu sou diferente, por isso todo mundo gosta de me analisar, e quando interesse é despertado ele ocorre 99% das vezes de forma invasiva deselegante, nada discreta. Tento manter peito mais projetado, cotovelos vigilantes. Se você não respeita lição #1 o máximo que conseguirá agora é que eu fique fitando os pés que se colocaram no meu caminho. Se você acha que é normal ser homofóbique porque todo mundo é e/ou não pede licença, desculpa, por favor, não decreta obrigado e prefere gratidão porque não é bicho-grilo nem maconheira porque ninguém é, ora, a culpa é sempre dos outros e/ou se você é intelectual/artista e não mocoseia numa torre de martírio, você que lê e consegue acompanhar raciocínio, ironia, eu-lírico, por favor: não se coloque no meu caminho (fisicamente falando). Se ponha no seu lugar, ignorante! Pensa que está falando com uma morta de fome que nem você? Me erra! Sérião, mesmo! Se você trata todo mundo que nem merda porque todo mundo trata todo mundo que nem merda, não tem onde cair morto, na fila do CDHU sustentado por bolsa-família e ainda por cima puxa-saco de coxinha, golpista? Que mérito tem essa boca suja, banguela, semianalfa e fedorenta, não sabe nem o resultado de 6x7, que isso? parece uma pornô rindo como hiena desvairada presunçosa pelo simples fato d'eu não ser assinante desse tal de Netflix?


-- o que você tá fazendo comigo, é um jogo?
-- coroa!
               



               ♦ 




03/06/2016

rezano

gostaria de aproveitar esse espaço pra agradecer doações transanônimas de 40 e fintchy reais.

CONTINUEM! 

18/04/2016

💔

6/3/16
Dona Nil, vulgo Irmã, tá cobrando aluguel atrasado e ainda não tenho dinheiro. Não gosto de escrever em agenda e sem meus cadernos de anotação tô escrevendo bem menos, cada vez menos. Agora 22h14 em Brasília e aqui na estação São Bento do metrô onde encontro-me sujo, todo acabado e macumbado, atiradão no chão antiestrela, ao lado do smartphone que suga energia dos teus impostos convertidos em sistema de serviços pseudopúblicos. Voltei a ler menos também depois que adquiri esse aparelho num gran-camelódromo-mesquita de Casablanca. Baixei O Capital em pdf mas não paro de me alienar a Grindr, Tinder, Snapchat, Facebook, Twitter... Achei que tinha aprendido a lição, eu, macaco velho de Orkut, acabei caindo no conto de indiretas da rede social. Um erro de interpretação fez com que eu ficasse +ou- 6 meses achando que era referência de textos românticos: e, é claro ➡ vagos. Inconscientemente poderia até haver alguém que pensasse em mim, o que não adianta nada quando a pessoa não conhece e/ou não domina seus próprios desejos. Eu me declarei, é claro, cara de pau que sempre fui.

MAS: aqui reside problemática que não irei por demais explanar. Tarde demais percebi... Tarde demais para minhas vinganças, paixões, sonhos, ideais, felicidade... Tarde demais para o amor. Agora busco... sei lá o quê. Mudar de São Paulo? Pode ser... Aqui chega momento em que o pensamento encerra divagações e olho pros lados, pras pessoas que passam e ficam olhando feio, com cara de assustadas, desconcertadas, recalcadas, invejantes, atraídas. Eu sei que no Rio de Janeiro isso (estranhamento dos outros) não acontece para comigo. Gosto de São Paulo mas não sou cego a seus evidentes problemas. Se tu é uma coisa mas aparenta ser outra, no meu caso por exemplo: sofrer discriminação pelo fato de que sou loiro, alto, branco, olhos claros e POBRE. Se eu fosse rico seria absolutamente normal e aceitável nesse país de colonização europeia. Não tenho amigos, não tenho dinheiro, não tenho estabilidade emocional, Oh God, vou morrer nessa vibe forever macumbado? Se ao mínimo tivesse alguém pra amar teria força pra me reerguer, não quero continuar vivendo essa merda, por mais que seja "bom" pra virar literatura: não ganho nada com ela, nem dinheiro nem amantes.
Escolhi não viver uma vida de hipocrisia. Nesse dia em que transcrevo texto para o blog acordei com essa palavra na mente, não só no campo político a hipocrisia parece sempre vencer no fim. Sem amigos nem dinheiro mas tenho 7 gatas que ~be ãbam~.

17/4/16 - Anhangabaú.
Dona Nil, por uma graça de Diós, deixou que eu ficasse mais alguns dias sem pagar, o que me deu tempo de pedir empréstimo ao banco -- aprovado. Ainda não voltei a trabalhar e tô aqui contribuindo com minha cara de cu à manifestação contra o Golpe.

17/4/16 - Ocupa Prédio de Vidro.
Impeachment

(...)

Bato punheta loucamente.

07/04/2016

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14/03/2016

~~TEMPERAMENTO NOSTÁLGICO~~


sentindo-se nostálgico
em Osvaldo Aranha
~~TEMPERAMENTO NOSTÁLGICO~~
(aviso: TEXTÃO)

A Katia Suman deu entrevista na qual se descreveu com esse termo (pelo qual me identifiquei) ao posicionar-se sobre o documentário (que acabei de ver): "Não tenho temperamento nostálgico"...
Por outro lado, minha memória (pra não dizer "eu") sentiu-se afetivamente tocada ao lembrar de Poa e dos amigos e das "bandas" (vâmo dá uma banda na Osvaldo? rs) e bebedeiras e tudo pelo que passamos nesse lugar. Ao mesmo tempo questionei o papel de sua influência na minha personalidade e no que me transformei. Acabei chegando na hipótese de conclusão que foi motivadora de minha evasão migracional: tenho pavor de burgueses sebosos, sejam eles da minha terra natal ou não. Essa cena do Bom Fim gerou uma aura underground que propagou ideias de comportamento e estilo influentes na vida de seus frequentadores, incluindo eu, é claro: um lumpemproletariado que parecia ter descoberto o paraíso. E olha que isso foi no fim daquilo que já era o fim do fim da decadência da Osvaldo: fim dos anos 90. Mergulhei com tudo na ideia de sexo drogas e rock n' roll. Gente, não virei evangélico, acalmem-se, só queria compartilhar os pensamentos que me vieram à tona...

Quem diria que hoje poderíamos ter acesso ~gratuito~ a um filme através de aparelho que a princípio foi criado pra fazer ligação telefônica sem fio? Pesando prós e contras hoje em dia sou fruto das escolhas que fiz nessa época: eterno wannabe: quero ser escritor, ator, roqueiro poeta beatnick livre alternativo ou pelo menos queria até 2004, ano em que decidi acabar com tudo aquilo ao mesmo tempo (bem, tudo não, sexo e rock n' roll continuam, rs) e entrei numas de saúde boa alimentação voltar a estudar malhar e ler loucamente e trabalhar pesado etc. Talvez, talvez não: de certo que magoei e deixei de falar com muita gente nessa época porque, cabeça fraca, achava que poderiam me levar de volta praquele mundo. Lembro duma época que eu passava dias no bar João sem comer nada, só bebendo. Não sabia mais como tinha conseguido voltar pra casa, de repente simplesmente acordava e tava na minha cama sem lembrar do que tinha acontecido na noite anterior. Vivia tão chapado e fazia tanta mistura louca de droga que num determinado momento realidade e ficção se confundiram na minha cabeça, eu não sabia se tava sonhando ou se tava acordado. Lembro duma vez que de repente quando "caí em mim" tava conversando com uma senhora idosa no sinistro bar Van Gogh. Tava flertando com ela e, como se aquilo fosse uma coisa fantasmagórica, achava que tinha a missão de levá-la de volta pra casa, o que fiz e o lugar era tipo num convento! De outra feita o lance era com animais: cavalo, escorpião, pássaros, mariposa, vermes: interagia de forma sempre mágica e significativa, como num ritual onde eles (que apareciam na minha casa!) fossem representantes cabalísticos de "troca de favores espiritual"... Foi o começo do meu inferno mental, que até hoje digamos que ainda não tenha fechado seu ciclo, embora se manifeste cada vez com menor intensidade. Foi também o começo da fascinação pela solidão, às vezes mórbida, às vezes saudável... Bom, não quero aqui contar uma história de vida e sim lembrar a mim mesmo e aos amigos de boemia que aquela personalidade destrutiva-alegre não me deixou um bom legado, eu era feliz apenas por fora, por dentro restava só um vazio que de tão clichê tornou-se existencial e é sempre assim: ideias que vêm de fora pra nossa colonização (cultural, intelectual e mercadológica) seguir em frente. Não virei um santo e sei que não podemos prever o dia de amanhã. Hoje gosto de pensar que sou mais crítico e menos inconsequente. Quem gostava do que eu era naquela época nunca mais encontrou o mesmo cara e talvez não mais encontre...

Mas estávamos vivendo o agora, né? O que torna-se cada vez mais difícil devido a virtualização e crescente escassez de convívio em espaços públicos. O tempo muda a gente. Assim como a Katia, creio também não ter um temperamento nostálgico porque não tenho vontade de reviver essa época. Tenho saudade, mas hoje tento fugir do que não faz bem ao desenvolvimento material e subjetivo do que me cerca e do que sou.
O underground porto-alegrense morreu, isso é fato, galera... O lado bom: amizades que fiz e infelizmente, pela distância, não cultivo mais: Juliana Machado Lilia Graciela Fernandes Graciella Machado Dos Santos Jefferson Cruz Dos Santos Cleiton Motta Roberson Balbuena Anamaria Brasil e também aqueles fora do meu face: vocês estarão sempre no meu coração!!!!

 ~~FIM~~

(ps. to editando porque enviei o vídeo errado, mas deixo aqui pra manter o ar de espontaneidade e ato-falho kkkkkkkkk... o doc tá no comentário, rs. abraço!!!)

(nota de transanonymous: era um vídeo do Bonde das Bonecas)



    
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